"A Palavra é do Tempo, o Silêncio da Eternidade"

5 de fevereiro de 2008

QUARESMA: CAMINHO PARA A VIDA

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QUARTA-FEIRA DE CINZAS

Ambientação

A bênção e a imposição das cinzas são uma prática penitencial muito antiga. Nos primeiros séculos da Igreja os cristãos que haviam prejudicado a comunidade cristã com escândalos públicos, expiavam-nos durante a Quaresma. No começo deste tempo litúrgico recebiam as cinzas sobre as suas cabeças em sinal de humildade, e, a seguir, eram acompanhados à porta da Igreja. Até 5ª Feira-Santa não participavam nas assembleias da comunidade, mas permaneciam no átrio em sinal de penitência.Hoje, em que tudo se permite e tudo se procura contestar, não só se está a perder a consciência do pecado como também a própria realidade dramática do pecado. Ao ouvirmos a palavra de Deus “lembra-te que és pó” (terra) é hora de defendermos a Terra que está a ser destruída pela ganância do lucro. Na Quaresma orientemo-nos pela conversão – escutar Deus, e pela solidariedade – ajudar os necessitados. Jejum, hoje, é renunciar para mais partilhar.

A Palavra de hoje:

Joel 2, 12-18; Coríntios 5, 20-6, 2; Mateus 6, 1-6. 16-18

Meditação: Joel 2, 12-18

A mensagem do profeta Joel foi pronunciada provavelmente depois do desterro, no templo de Jerusalém. Uma praga de gafanhotos devastou os campos, provocando carestia de bens e fome (1, 2 – 2, 10). Como consequência, cessou o culto dos sacrifícios no templo (1, 13-16). O profeta lê os sinais dos tempos e por isso anuncia a proximidade do dia do Senhor, convidando todo o povo ao jejum, à oração, à penitência (2, 12.15.-17a).

A palavra-chave deste texto, repetida três vezes nos primeiros versículos é voltar (shûb em Hebraico) verbo clássico da conversão. O v. 12 apresenta ao povo o convite, à conversão. Sem a renovação interior e a mudança do coração os ritos litúrgicos não agradam a Deus. No v. 13, o convite à conversão aparece de novo e a motivação é porque o Senhor é sempre misericordioso. No v. 14 o mesmo verbo se refere a Deus abrindo uma porta à esperança: “perdoará uma vez mais”. A conversão expressa-se num amor sincero a Deus, numa fé mais sólida, e numa esperança que se faz oração comunitária e penitente. Tendo estas disposições, o profeta e os sacerdotes poderão pedir ao Senhor que se mostre zeloso com a sua terra, compassivo com a sua herança (vv.17s).

Meditação - Mateus 6, 1-6.16-18

Tende cuidado que a vossa justiça não seja como a dos fariseus (v.1). Jesus pede aos seus discípulos uma justiça superior à dos escribas e fariseus (cf. Mt 5, 20). Mesmo que as práticas exteriores sejam as mesmas, Jesus reclama a vigilância sobre as intenções que nos movem a actuar.
O evangelho repete primeiro as três obras típicas da piedade judaica: a esmola (6, 2-4); a oração (6, 5-15) e o jejum (6, 16-18). A novidade de Jesus é esta: essas obras não valem de nada se forem feitas para vanglória e a própria recompensa. O valor delas consiste em fazê-las diante do Pai que vê no segredo. Jesus completa a tradição ensinando-nos o Pai-nosso e ressaltando como é indispensável o perdão …”mas se não perdoardes aos homens também o vosso Pai não perdoará os vossos delitos” (Mt 6, 15).

Penitência e arrependimento não são sinónimos de abatimento, tristeza ou frustração; pelo contrário, constituem uma modalidade de abertura à luz que pode dissipar as obscuridades interiores, tornar-nos conscientes de nós mesmos na verdade e fazer-nos experimentar a misericórdia de Deus. Quem vive na presença de Deus, é livre.

Aquele que nos envolve com amor total liberta-nos do nosso mal e reveste-nos de uma inocência nova.O Senhor tinha confiado ao profeta a missão de convocar o povo para suscitar uma nova esperança através de um caminho penitencial; aos apóstolos confia-lhes o ministério da reconciliação; à Igreja hoje, encarrega-a de proclamar que agora é o tempo favorável, agora é o dia da salvação! Renovados pelo amor aprenderemos a viver sob o olhar do Pai, contentes de poder cumprir humildemente o que lhe agrada e ajudar os nossos irmãos. A sua presença no segredo do nosso coração será a verdadeira alegria, a única recompensa esperada e de que temos já um antegosto.

Perguntas para reflexão

- Que significado tem para nós, hoje, o jejum, a oração, a esmola?

- Com que atitudes devemos iniciar e viver o tempo da Quaresma?

A Palavra converte-se em oração

Meu Pai, Tu que vês no escondido, sabes como fujo do mais íntimo de mim mesmo e como busco a admiração dos homens.

Ó pobre recompensa do orgulho do meu “eu” que representa o seu papel na comédia humana!

Muito distinto, muito mais desconcertante é o mistério da tua piedade, mas como ainda o ignoro, vou vagueando longe de Ti.

Faz-me voltar, te suplico, à profundidade do meu ser onde tu moras.

Na luz nova do arrependimento exultarei de alegria na tua presença.

Pai nosso, que estás nos céus, tu conheces o mal do mundo e como eu para ele, cada dia, contribuo com o meu egoísmo e desobediência à tua Palavra.

Ajuda-me hoje a acolher o dia da salvação; concede-me agora a graça de olhar para o teu Filho, tratado como pecador e crucificado por nós, por mim.

Reconciliado por Ele, Amor infinito, viverei no amor humilde que não busca outra recompensa além de Ti.

SVD Portugal (www.verbodivino.pt)