Fala-me de Deus (Miguel Estradé)
Disse à amendoeira: Fala-me de Deus!
E a amendoeira floriu.
Disse ao pobre: Fala-me de Deus!
E o pobre ofereceu-me a sua casa.
Disse à casa: Fala-me de Deus!
E abriu-se a porta.
Disse à natureza: Fala-me de Deus!
E a natureza cobriu-se de formosura.
Disse ao amigo: Fala-me de Deus!
E o amigo ensinou-me a amar.
Disse ao rouxinol: Fala-me de Deus!
E o reouxinol pôs-se a cantar.
Disse a um guerreiro: Fala-me de Deus!
E o guerrreiro depôs as armas.
Disse à fonte: Fala-me de Deus!
E a água brotou.
Disse à minha mãe: Fala-me de Deus!
E a minha mãe deu-me um beijo na fronte.
Disse à mão: Fala-me de Deus!
E a mão coverteu-se em serviço.
Disse ao inimigo: Fala-me de Deus!
E o inimigo estendeu-me a mão.
Disse a Jesus: Fala-me de Deus!
E Jesus ensinou-me o "Pai Nosso"
Disse temeroso ao sol poente: Fala-me de Deus!
E o sol ocultou-se sem nada dizer.
Mas, no dia seguinte, ao amanhecer,
quando abri a janela
ele voltou a sorrir-me.
***
(Miguel Estradé)
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