"A Palavra é do Tempo, o Silêncio da Eternidade"

18 de março de 2012

Procissão dos Passos do Tortosendo 18/03/2012




PRETÓRIO – SERMÃO DO JULGAMENTO E CONDENAÇÃO DE JESUS
1. OS PASSOS DO SENHOR – OS NOSSOS PASSOS DE HOJE
 
Leitura: Mc 14, 53-65

Acompanhamos hoje, nesta nossa procissão dos passos, os momentos mais decisivos dos últimos momentos da vida de Jesus, desde a sua condenação à morte pelo Sinédrio (Sumos Sacerdotes e Doutores da Lei) até à crucifixão no Calvário. Revivemos de novo o drama da vida de Jesus: a sua paixão e a morte na cruz.

Jesus foi condenado à morte injustamente. «Para as autoridades, Jesus é reu, e elas já tinham decretado a sua morte. Agora, montam um processo teatral para justificar tal decreto». Procuraram testemunhas falsas. Acusaram-nO de blasfemar contra Deus. Foi um falso julgamento, fruto de uma sociedade injusta, um sistema causador da morte…

Hoje como ontem, continuamos a presenciar na vida da sociedade e do mundo o drama semelhante ao de Jesus. O nosso mundo, por vezes, é palco de um grande teatro. O palco onde se monta e se vive o espectáculo do drama do sofrimento humano. Continuam a existir sociedades injustas e causadores da morte, sistemas corruptos e enganosos, autoridades que se servem do seu cargo para o seu próprio proveito, oprimem e ameaçam o próprio povo. No mesmo processo estão os condenados à morte, os que sofrem a injustiça, a mentira e a falsidade. Quantos não recebem bofetadas por testemunharem a verdade! Quantos não foram acusados injustamente de blasfémia! A justiça que protege os fortes e condena os fracos; a mentira que engana; a falsidade que reina… tantos e tantos dramas deste mundo! 

É neste espírito de mergulhar nos passos do sofrimento do Senhor Jesus que vamos, ao longo da nossa procissão pelas ruas da nossa vila, meditar nesta condição humana em que todos somos chamados a viver. Mas, seguimos os passos do Senhor sempre na confiança e na entrega total da vida. Porque só na confiança no Senhor que nós possamos entender os Seus e os nossos sofrimentos. Porque «no projecto de Deus, as coisas invertem-se: este condenado é o Messias, o Filho de Deus, que inaugura a sociedade justa do Reino de Deus. Por isso, do réu passa a ser juiz que condena o sistema causador de morte».             


SERMÃO DO ENCONTRO – JESUS E SUA MÃE
2. ENCONTRO DO “FILHO CONDENADO” E A “MÃE DAS DORES”

Continuamos a seguir os passos do Senhor meditando nos dramas do mundo de hoje. Pelo caminho do Sinédrio ao Calvário Jesus encontrou sua mãe, Senhora das dores. Este encontro, sem dúvida, foi e é um encontro mais comovente de todos os tempos. O encontro do filho condenado à morte com a mãe das dores. Esta mãe que testemunhou todos os momentos da vida do seu filho. A mãe que nunca abandonou o filho muito mais ainda nesta via dolorosa, via-sacra. A senhora das dores foi ao encontro do seu filho, manifestando o sentimento de umã mãe.

Tiveram gestos semelhantes poucos dos que presenciaram este espectáculo. O gesto voluntário de Verónica a limpar o rosto ensanguentado e desfigurado de Jesus. O gesto forçado de Cireneu obrigado a levar a cruz de Jesus. Estes saíram do anonimato, deram a cara. Não se limitaram a olhar de longe como espectadores. Não se limitaram a falar do acontecimento, mas aceitaram o desafio, tomaram iniciativa, comprometeram-se mais, tomaram responsabilidades. São actos de “prestar atenção”, isto é, «observar bem, estar atento, olhar conscienciosamente, dar-se conta de uma realidade». Sabiam o preço que podiam pagar com os seus gestos. Mas não se importavam. São gestos de grande coragem, fruto dum profundo amor e de uma forte solidariedade para com o Senhor.    

O Senhor continua a passar levando às costas a sua cruz, incarnando-se na realidade da vida do nosso mundo. A Senhora das dores continua a suportar a sua dor e a dor de muitos. Há alguém que se interessa por eles? A mãe que sofre pelo filho, que lamenta a perda do filho, que não sabe como cuidar e dar-lhe vida. Mas há quem não se interessa pelo próprio filho, que não o quer saber de nada, que o abandona e não o aceita. Sabemos bem as realidades da vida de hoje que nos causam sofrimentos e dores, suores e lágrimas. Estamos a viver cenas negras dos últimos tempos que todos sabemos, na família, na comunidade, na sociedade, no país, no mundo…

Diante deste encontro «ressoa, com vigor, a voz do Senhor que chama cada um de nós a cuidar do outro. Também hoje Deus nos pede para sermos o «guarda» dos nossos irmãos, para estabelecermos relações caracterizadas por recíproca solicitude, pela atenção ao bem do outro e a todo o seu bem… Se cultivarmos um olhar de fraternidade, brotarão naturalmente do nosso coração a solidariedade, a justiça, bem como a misericórdia e a compaixão». Nascerão encontros que geram vida nova e não desencontros.                     

Sair da massa, ter um gesto concreto de solidariedade para com os outros… continuam a ser desafios a todos nós perante os dramas actuais da vida. Precisamos outras Marias, outras Verónicas, outros Cireneus… entre a multidão!          
SERMÃO DA CRUCIFIXÃO E MORTE DE JESUS
3. CALVÁRIO DE ESPERANÇA 
 
Leitura: Mc 15, 33-39
Chegamos ao Calvário, lugar do nosso culto mas também o lugar da crucifixão e da morte de Jesus. Acompanhámos o Senhor ao longo dos caminhos da nossa terra com os nossos próprios passos. Revivemos os momentos da sua entrega por amor a todos nós. A sua face desfigurada de tanto sofrer, sem forças, sem fôlego… foi insultado, batido, espancado, açoitado, cuspido… recebeu uma coroa de espinhos, humilhado, maltratado… teve sede, mas Ele suporta tudo, entrega tudo, aceita tudo. Tudo ama, tudo perdoa… «Pai, perdoa-lhes porque não sabem o que fazem».       
 
Chegou o momento decisivo: crucifixão e morte de Jesus. «Meu Deus, meu Deus, porque Me abandonaste?» Um justo sofreu pelos injustos, um Deus morreu pelos pecadores. Deu um forte grito e expirou e o centurião testemunhou: «De facto, este homem era mesmo o Filho de Deus». Este é o sinal mais poderoso do amor de Deus pela humanidade.
 
«O amor sem limites do Senhor simbolizado pela cruz só se torna para nós fonte da graça, da liberdade e da salvação se houver fé que garante uma esperança forte». É só à luz da fé que podemos compreender tudo isto, não com a nossa razão limitada, mas com o coração inundado de amor, pelo Senhor e pelos irmãos. Jesus ama a todos, entregando a sua própria vida. «Não há maior amor do que dar a vida pelos amigos». Somos seus amigos. Já nada e ninguém nos separa do amor de Deus. Nem o pecada, nem a morte. No entanto, somos capazes de entregar a vida pelos amigos? De amar sem distinção? De reconhecer as nossas limitações? É na cruz do Senhor que encontramos forças, rações da nossa esperança e do nosso acreditar. Por isso, precisamos de a abraçar, de caminhar com ela, junto dela e rumo a ela. É na cruz do Senhor que nasce a verdadeira fé, o verdadeiro amor, lavados pelo sangue e água do lado aberto do Senhor. Pois, a cruz é «a expressão suprema do amor de Deus pelos homens».               
 
Por isso, todas as realidades e situações da vida pessoal, familiar, comunitária, social e mundial, como temos vindo a reflectir ao longo desta nossa procissão, que são também as cruzes de hoje que, por vezes, matam, só podem ser superadas com uma fé fortificada, alimentada e vivida em comunhão, na partilha, na entre ajuda de todos. Só assim poderemos transformar este Calvário da morte em Calvário da Esperança. Jesus, com a sua morte na cruz, ofereceu-nos a vida definitiva, ensinando-nos a amar sem medida.  
 
A cruz, para muitos, é sinal da morte mas para nós é sinal da vida, do triunfo da vida sobre a morte, da graça sobre o pecado. À luz da cruz de Cristo transformemos as nossas realidades em cenas de nova esperança, nova vida. O Senhor conta connosco na transformação dum mundo novo. Continuemos a acompanhar o Senhor na sua paixão e morte levando as nossas próprias cruzes, mas com esperança e força de vontade para um novo começo, um novo modo de ser e viver rumo à Pascoa da ressurreição.                         
(Feliciano Sila, svd)