"A Palavra é do Tempo, o Silêncio da Eternidade"

24 de dezembro de 2012

É NATAL: VOLTAMOS AO ESSENCIAL




NOITE DE NATAL (Is 9,1-6; Tito 2,11-14; Lc 2,1-14)

 
«Anuncio-vos uma grande alegria para todo o povo: nasceu-vos hoje um Salvador, que é Cristo Senhor»
É a mensagem principal do Natal cristão. Nasceu para nós um Salvador, que é Cristo Senhor. É Natal, a festa da vida. A vida com todos os seus encantos mas também os seus desafios.  
Penso que o Natal deste ano leva-nos ao essencial graças às circunstâncias da vida que nos envolvem nestes últimos tempos. E neste sentido, o Natal deste ano já é diferente para muitos. E podemos enumerar, cada um, a sua razão. Mas leva-nos ao essencial, ao verdadeiro espírito da celebração, lembrando-nos o que se passou com aquele Menino e os seus pais. As circunstâncias em que se encontravam Maria e José nos últimos momentos do nascimento do seu Filho. Fizeram uma grande caminhada, não encontraram lugar na hospedaria, todos os rejeitaram… Afinal, esta família e este Menino passaram mesmo por dificuldades. Mas é por estes caminhos que Deus vem ao nosso encontro. Sendo Deus, aceitou ser um de nós, tomando a nossa natureza. Deus quis assim viver o que significa ser humano, sentir na pele o que é o viver do homem. O Filho de Deus tornou-se filho do homem e, por sua vez, o filho do homem tornou-se filho de Deus. É uma graça e um dom do encontro entre o divino e o humano. Por esta razão é que o Natal sempre é uma alegria, um hino de louvor e um canto de glória: «Glória a Deus nas alturas e paz na terra aos homens por Ele amados». É uma alegria não por não nos faltam ‘coisas’, mas porque sabemos que Deus está ao nosso lado.   
As leituras desta noite centram-nos a nossa atenção para a figura do Menino. A 1ª leitura diz: «Um menino nasceu para nós, um filho nos foi dado»; e o evangelho afirma: «encontrareis um Menino recém-nascido, envolto em panos e deitado numa manjedoura». E se porventura as nossas atenções e preocupações até agora andam à volta de outras coisas, deixemos que, pelo menos nesta celebração, voltemos por uns instantes à figura principal que é o Menino. Um Menino que foi anunciado como grande luz para as nações, um conselheiro admirável, Deus forte e eterno, Príncipe da paz, fonte de salvação, mas que se manifestou na simplicidade, na pequenez, na pobreza. Um Menino sem defesa … mas, ao mesmo tempo, querido e é uma fonte de alegria. Deus escolheu caminhos inesperados, mas muito humanos: o caminho da pequenez, da humildade e do serviço. Ele serve-se também dos humildes para realizar as suas obras. São caminhos e instrumentos que contrariam os que preferem e procuram sempre a grandeza e o poder. Desde a terra e o lugar onde nasceu, os pais, a família, os sinais do seu nascimento, os que assistiram o seu nascimento –os pastores- eram simples e ninguém os contava. Já desde o seu nascimento e mais tarde na sua missão e vida pública, pôs-se ao lado dos que ficam fora da sociedade, os da beira do caminho, os marginalizados, os explorados, os oprimidos. É o estilo de Deus. E, mais uma vez, um Deus assim só pode ser um Deus próximo, um Deus irmão, um Deus amigo, um Deus fraterno, enfim, um verdadeiro Deus e verdadeiro homem. Mas não faltam, no entanto, os que se sentem ameaçados pela sua presença.
Todas as figuras do Natal, principalmente a de Maria e dos pastores, ensinam-nos o melhor jeito de acolher este Deus-menino: “estar atento às necessidades dos irmãos, partir ao seu encontro, partilhar com eles a nossa amizade e ser solidário com as suas necessidades.” Ser próximos. Ensinam-nos também que vale a pena confiar. Confiar no Senhor e uns aos outros. Que vale a pena esperar, que vale a pena acolher.   
Por vezes se calhar não encontramos muitas razões para grandes manifestações de alegria. Existem ainda povos que andam nas trevas, habitam nas sombras da morte, ainda sentem o jugo que pesa sobre os seus ombros, o bastão do opressor, o calçado ruidoso da guerra, a veste manchada de sangue, como ilustra a primeira leitura. Povo em marcha pelo mundo fora, deixando as suas terras, sem lugar na hospedaria nem recebidos pelas pessoas, procurando uma vida melhor, como consta no evangelho.
No entanto, voltamos mais uma vez à figura principal: o Menino, e aí está a resposta. Porque não somos os únicos nem os primeiros e muito menos os últimos a sentir os efeitos mais negros da vida. E lembremos os caminhos do Senhor, os instrumentos que Ele usou: pequeninos, simples e humildes mas com coração generoso e acolhedor. «Deus não segue a lógica dos homens. Estes esperam alguém forte, rico e poderoso. Ele, ao contrário, manda um menino pobre, fraco e necessitado de ajuda». Estamos conscientes que «o reino de paz, amor e justiça iniciado por este menino, ainda não se realizou plenamente». Assim nos consta a nossa experiência. «É ainda pequeno, precisamente como um menino. Já nasceu mas deve crescer, desenvolver-se, também com a nossa ajuda».    
O Natal é sobretudo a alegria do nascimento, da vida nova e renovada, do encontro de Deus-connosco, da justiça, paz, amor e fraternidade. Se experimentarmos um pouco disso neste Natal já não é pouco. Voltamos então ao mais essencial do Natal: o mistério do encontro de Deus com a humanidade, do divino com o humano. Então que neste Natal «a esperança não se perca, a alegria se renove e o amor seja o presente». O nosso Deus é Emanuel, Deus-connosco, Deus próximo.