"A Palavra é do Tempo, o Silêncio da Eternidade"

23 de março de 2009

DEUS, A SEU TEMPO, FAZ APROPRIADAS TODAS AS COISAS

Sou Feliciano Sila, SVD, natural de Timor Ocidental, Indonésia. Cheguei a Portugal, pela primeira vez, no dia 5 de Fevereiro de 2002. Cheguei cá sem o mínimo conhecimento da língua de Camões, pois, nunca tinha qualquer contacto com esta língua. Comecei, então, a apreender a língua portuguesa, uma das línguas mais difíceis. Fiz o curso oficial de língua na Faculdade de Letras da Universidade Clássica de Lisboa durante quatro meses. O resto foi de fruto de auto-aprendizagem.

No mês de Setembro do mesmo ano, comecei o curso de Teologia na UCP de Lisboa. Os primeiros tempos foram de grande sacrifício em termos de adaptação a quase todos os níveis: a língua, o clima, a comida, a cultura e até as coisas mais simples. Era como nascer de novo, ser uma criança. O desafio foi ainda maior, a nível de estudo, porque, nos primeiros dois anos de curso, ainda tivemos que apreender outras línguas: latim, grego e hebraico. Estes momentos, em vez de serem motivos de desânimo, foram desafios a ultrapassar. E, graças a Deus, com força de vontade e a ajuda de pessoas amigas e com o passar do tempo, tudo evolui. E, finalmente, terminei o curso de Teologia com a defesa da minha tese de dissertação, no dia 29 de Fevereiro de 2008, sobre o tema: “Diálogo inter-religioso e a missão da Igreja. Uma interpelação à vida da Igreja na Indonésia”.

Depois das várias etapas da minha caminhada vocacional dentro da Congregação dos Missionários do Verbo Divino, decidi, então, responder definitivamente ao chamamento de Deus e dizer “sim” para sempre, através da profissão dos votos perpétuos feita a 7 de Julho de 2007 na paróquia do Prior Velho em Lisboa. Na sequência da profissão perpétua, fui ordenado diácono, juntamente com outros colegas, no Mosteiro dos Jerónimos, no dia 2 de Dezembro de 2007, pelo Cardeal Patriarca de Lisboa, D. José Policarpo.

No início do mês de Março de 2008, voltei ao meu país para realizar pastoral diaconal e preparar-me para a ordenação sacerdotal. A Província SVD de Indonésia-Timor, donde sou originário, destinou-me para a paróquia do Sagrado Coração de Jesus de Oesilo/Passabe, no distrito de Oecussi em Timor Leste. Estive seis meses nesta paróquia. A minha experiência ali foi muito marcante a nível pastoral e, sobretudo, de convivência fraternal e familiar com o povo. A simples presença de alguém que possa e saiba escutar e dar atenção à experiência de vida marcadamente dolorosa de um povo conta mais do que mil palavras. No entanto, as celebrações religiosas, as visitas pastorais às comunidades de base, às capelas e às estações missionárias em que fizemos encontros de formação, catequese e preparação para recepção dos sacramentos, foram motivo e momentos de grande alegria. As eucaristias e as celebrações dos diversos sacramentos são muito vivas e intensamente vividas.


No dia da ordenação

Depois desta experiência diaconal, voltei para a minha terra em Timor Ocidental, não muito longe da fronteira com a paróquia onde estive, para a preparação mais próxima da ordenação. No dia 29 de Setembro de 2008, fui ordenado sacerdote juntamente com dois colegas verbitas e outros dois diocesanos. Já é uma tradição da diocese realizar-se a ordenação conjunta de candidatos ao sacerdócio diocesanos e de congregações religiosas nos diferentes centros e regiões da diocese. No nosso caso, foi em Nenuk, Atambua, onde se situam a casa-mãe da SVD de Timor, o provincialato e o noviciado.

O bispo da Diocese de Atambua, D. Dominikus Saku Pr, a que eu pertenço, foi quem nos ordenou, acompanhado pelo bispo emérito D. Antonius Pain Ratu, SVD. A casa central da SVD transformou-se num altar onde se congregaram inúmeros fiéis e familiares dos ordenados. Estiveram presentes nas celebrações quase todos os membros do clero, religiosos e religiosas das dioceses de Atambua, Kupang e Díli e também as autoridades locais. Foi um dia de graça marcante e emocionante. Fiquei contente por me ter ordenado na minha terra onde os meus familiares, colegas, amigos e conhecidos puderem assistir mais de perto. Os amigos de Oesilo e de Oecussi, apesar de alguma dificuldade em obter licença para atravessar a fronteira, lá conseguiram participar no dia da ordenação como também na Missa Nova realizada na minha paróquia. A presença destas e de tantas outras pessoas foi, para mim, um grande apoio e sinal de que não estou sozinho nesta caminhada e, ao mesmo tempo, constituiu um grande desafio a ser fiel a este chamamento. A eucaristia solene foi animada pelo coro de centenas de pessoas constituído por noviços verbitas, seminaristas diocesanos, jovens e amigos das paróquias mais próximas do lugar da celebração. A eucaristia demorou mais de três horas, coisa normal para as celebrações desta natureza.

As experiências de vida e de caminhada vocacional levaram-me a escolher como lema para a minha ordenação sacerdotal: Deus, a seu tempo, faz apropriadas, boas todas as coisas (cf. Ecl 3, 11). Depois da ordenação seguiu-se a missa nova na minha paróquia e ainda várias celebrações de acção de graças com os familiares e na paróquia de Oesilo.
Nos primeiros tempos depois da ordenação, enquanto esperava pelo visto, ajudava na minha paróquia e também na casa central da Província SVD de Timor. Ainda voltei a celebrar o Natal em Oesilo. Foi, para mim, uma maneira de partilhar o dom divino e agradecer o carinho, apoio e orações daquelas pessoas amigas.


Missa nova


Regressei a Portugal no dia 27 de Fevereiro de 2009. Entretanto, a Província Portuguesa SVD destinou-me para a comunidade de Tortosendo. O meu trabalho missionário vai ser sobretudo a pastoral vocacional sem me desligar das actividades pastorais e paroquiais das comunidades que estão confiadas a esta comunidade. Espero poder colaborar da melhor maneira possível com os confrades que aqui estão. Neste momento encontro-me já nesta comunidade a que cheguei no dia 4 de Março de 2009. Vou entrando aos poucos com a participação nas eucaristias para me apresentar às comunidades. Também já começámos a visitar escolas à nossa volta. Agradeço a abertura e a disponibilidade de todos os confrades daqui na introdução à nova comunidade, dentro e fora de casa. Por exemplo, isto nota-se desde a atenção às minhas necessidades básicas até ao tratamento dos documentos necessários.

Deus continua a fazer maravilhas!
Foi publicado no Contacto SVD, Março-Abril 2009 (http://www.verbodivino.pt/pdf/contacto.pdf)