"A Palavra é do Tempo, o Silêncio da Eternidade"

29 de fevereiro de 2008

Apresentação da Dissertação

APRESENTAÇÃO

(Este foi o texto apresentado na defesa da dissertação. Júri: Prof. Doutor José Eduardo Borges de Pinho, Prof. Doutor José Nunes, Doutora Isabel Varanda)

"Diálogo inter-religioso e a missão da Igreja. Interpelação à vida da Igreja na Indonésia"

Felicianus Sila


A situação actual, mundial e eclesial, demonstra de um modo especial a necessidade e a urgência da prática do diálogo. A realidade da Indonésia, por sua vez, apresenta uma pluralidade notável em quase todos os níveis. O diálogo inter-religioso torna-se fundamental muito mais ainda para a Igreja que vive no meio de diversas tradições religiosas. Daí os objectivos deste trabalho, a saber, a vontade de aprofundar e de dar a conhecer a realidade da Igreja na Indonésia, apresentando a situação socioreligiosa desta mesma sociedade e mostrar, particularmente, a importância do diálogo inter-religioso como parte integrante da missão da Igreja nesta sociedade, interpelando a mesma Igreja através de realidades específicas e concretas. Mais ainda, parece necessário abordar o tema do diálogo inter-religioso como dimensão intrínseca e tarefa fundamental da Igreja à luz dos documentos conciliares e de outros documentos do Magistério. Assim a formulação do tema deste trabalho: “O Diálogo inter-religioso e a missão da Igreja. Interpelação à vida da Igreja na Indonésia”.

O tema do diálogo inter-religioso, certamente, abre um vasto campo de estudo. Por isso este trabalho limita-se a abordar a questão do diálogo inter-religioso no contexto missionário da Igreja na Indonésia, embora sejam visíveis referências ao seu enquadramento universal, no entanto sem grandes aprofundamentos. Os documentos conciliares e magisteriais estudados foram também aqueles, ao nosso ver, mais representativos deste tema.


Este trabalho apresenta um esquema tripartido, no qual num primeiro momento se apresenta a realidade histórico-fenomenológica da sociedade indonésia. Segue-se um enquadramento eclesial fundamentado a partir das orientações do Concílio Vaticano II, tendo em vista o posterior desenvolvimento do tema do diálogo inter-religioso. E, finalmente, as questões actuais que merecem uma especial atenção, ou seja, a aplicação do mesmo diálogo em questões socioreligiosas actuais. Assim sendo, o primeiro capítulo apresenta a situação socioreligiosa na Indonésia, mais de ordem histórica, a situar a presença das religiões na Indonésia e os elementos que tecem o contexto socioreligioso actual. O segundo capítulo debruça-se sobre a visão católica do diálogo inter-religioso e o seu papel na missão evangelizadora da Igreja à luz dos documentos conciliares e de outros documentos do Magistério. No último capítulo apresentam-se realidades e desafios socioreligiosos específicos do diálogo inter-religioso na Indonésia. Verifica-se, ainda, a actualidade do mesmo diálogo na missão da Igreja.


A posição estratégica da Indonésia na via marítima fez com que este arquipélago se tornasse num verdadeiro lugar de encontro de diversas culturas e religiões. Daí resultou uma rica e complexa civilização. A pluralidade, entre elas a pluralidade religiosa, é parte integrante desta sociedade já desde a sua formação, permanecendo até aos dias de hoje. Foi principalmente por esta razão que a liberdade religiosa de cada cidadão vigora na Constituição. Realmente, os fundadores da nação, os nacionalistas indonésios e os representantes das diversas religiões puseram-se de acordo em cinco princípios da nação, conhecidos como Pancasila, destinados a reger esta sociedade plural. A Constituição determina o monoteísmo, sendo que o povo venera o seu Deus de acordo com a sua própria religião. O primeiro destes cinco princípios de que falávamos é precisamente a fé monoteísta. Isto demonstra o lugar fundamental da religião na sociedade pelo que não se pode falar do laicismo na Indonésia. As recentes mudanças de índole política, económica, social e religiosa põem em questão esta pluralidade. As notícias que têm vindo a chegar do país deram conta da existência de tentativas patrocinadas por movimentos fundamentalistas islâmicos de colocar leis islâmicas em vigor para toda a sociedade.


O Concílio Vaticano II foi determinante ao traçar um caminho renovado para o diálogo com as religiões não cristãs. A Declaração Nostra aetate e já antes a encíclica Ecclesiam suam apontaram o diálogo como caminho necessário a percorrer na aproximação da Igreja para com as outras religiões não cristãs. Esta mesma ideia do diálogo ligada à missão da Igreja está presente de uma ou de outra forma noutros documentos conciliares como sejam: a Constituição Dogmática Lumen gentium; a Constituição Pastoral Gaudium et spes; o Decreto Ad gentes, entre outros.


Os documentos pós-conciliares retomam e desenvolvem esta reflexão da Igreja sobre o diálogo inter-religioso. Os documentos “Diálogo e Missão” e “Diálogo e Anúncio” são de uma profundidade notável. Apresentam-se neles reflexões acerca do diálogo inter-religioso em relação com a missão e o anúncio a partir de experiências obtidas ao longo dos tempos na prática do diálogo da Igreja com as outras religiões.


Baseado nestes documentos eclesiais traçam-se os elementos de fundamentação teológica do diálogo inter-religioso. Estes são: mistério da unidade da família humana na sua origem e no seu fim último; unicidade e universalidade do mistério salvífico de Jesus Cristo; presença e acção universal do Espírito Santo e universalidade do Reino de Deus. Uma reflexão cada vez mais aprofundada e uma abertura maior às manifestações de Deus na história da humanidade levam a Igreja a um verdadeiro e autêntico diálogo baseado unicamente no amor, o amor a Deus e ao próximo. Os mistérios da encarnação, paixão, morte e ressurreição de Jesus Cristo são basilares para a fé cristã e, ao mesmo tempo, para o diálogo com as outras religiões.


A experiência imediata de pluralidade e de convivência inter-religiosa vividas a partir de dentro pelos cristãos e pela Igreja da Indonésia marcam o diálogo, sobretudo no testemunho autêntico da sua fé através de exemplos concretos vividos quotidianamente. Por isso o diálogo de vida e de colaboração são tão importantes quanto ao diálogo doutrinal. Numa sociedade como esta, aquelas formas de diálogo são necessárias, pois levam a um conhecimento mútuo e um enriquecimento recíproco. O diálogo com os irmãos de outras religiões torna-se, por isso, o modo de estar e de ser da Igreja na Indonésia e tarefa quotidiana e profética de cada cristão. A liberdade religiosa, o fundamentalismo religioso e os conflitos étnico-religiosos constituem igualmente desafios para o diálogo.


Conjugando todas estas dinâmicas resolvemos então apresentar o nosso trabalho, apesar das dificuldades. Realmente a língua apresenta-se como uma grande limitação quer ao nível da expressão, quer ao nível de um aprofundamento temático mais rigoroso. O próprio tema é muito delicado exigindo muita atenção, mais ainda porque não somos competentes nesta matéria. A outra dificuldade prende-se com a bibliografia: por um lado, existem diversos estudos sobre o tema do diálogo inter-religioso, requerendo o nosso critério de selecção, sendo que as nossas opções talvez não foram as mais apropriadas; por outro lado existem fontes a que não conseguimos ter acesso. Assim, por outro lado, sentimo-nos limitados com o estudo sobre o diálogo inter-religioso e sobre a missão da Igreja na Indonésia. Por outro, conseguimos obter alguns estudos através das páginas de internet. Conseguimos ter também em mãos algumas obras do país das quais algumas serviram mas outros não tratam propriamente do nosso tema.


Concluindo, o diálogo inter-religioso é de extrema importância para a missão da Igreja. A Igreja é constantemente interpelada a responder, cada vez com mais eficácia, às exigências da convivência num universo plural. Há muito que caminhar neste diálogo. Os desafios não faltam para um diálogo intenso e autêntico. Mais uma vez, é evidente que este trabalho não representa uma análise da realidade social e religiosa da Indonésia na sua totalidade, nem descreve ao pormenor a missão da Igreja neste país no que concerne ao diálogo inter-religioso. Fica este modesto contributo para uma melhor percepção das realidades socioculturais e socioreligosas da Indonésia e sobre a importância do diálogo inter-religioso na missão da Igreja neste país.