"A Palavra é do Tempo, o Silêncio da Eternidade"

24 de julho de 2009

O Acolhimento de Um Hóspede em Timor Ocidental





Este artigo, como o título indica, debruçase estritamente ao acolhimento em Timor Ocidental, donde sou de origem, um vasto mundo de tradições e culturas que é a Indonésia.

Um hóspede, para nós, não é apenas aquele que vai pernoitar na nossa casa, mas todos aqueles que, de uma ou de outra forma, passam pela nossa casa. Não é estranho que alguém conhecido que passa na rua é convidado a entrar em casa, embora seja por breves momentos.

Um hóspede ou um visitante é também parte da grande família. Por isso deve sentirse em casa. Faz-se então todo o possível, com cuidado e carinho, para que isso aconteça. A preocupação geral é que o nosso hóspede se sinta acolhido. Há um princípio geral bem vivo nesta terra que a maneira como acolhemos ou tratamos alguém é também a maneira com que os outros tratam dos nossos que estão longe da família ou que se encontram noutras terras. Este princípio traduz-se depois em muitos outros aspectos de vida comunitária. É a tradução da regra de ouro que fala o Evangelho: “Tudo o que desejais que os outros vos façam, fazei-o também a eles” (Mt. 7, 12).

No círculo rural, quando alguém entra em casa, cumprimenta-se, e a primeira coisa que se dá é puah-manus. Puah (em Dawan, um dos dialectos de Timor Ocidental; pinang em bahasa indonésio e areca nut em inglês) é fruto duma espécie de palmeira tropical que tem a sua origem no sudeste asiático, e manus (em Dawan; sirih em bahasa indonésio e betel vine em inglês) é o fruto ou a folha duma espécie de pimenta que se encontra também neste Continente. O visitante retribui também com o seu puah-maus. Existe aqui um dar e receber mutuamente. Seguese então com o habitual chá ou café. Em qualquer hora do dia o anfitrião oferece sempre chá ou café, ou então água para o seu visitante. E enquanto tomam do que é oferecido vão conversando. Num ambiente mais citadino, o mais comum é servir logo o café ou o chá, ou simplesmente a água, embora se mantenha o tradicional puah-manus.

A comunicação acontece à volta destes “instrumentos de união”: puah-manus, em primeiro lugar, e depois o café, o chá ou a água. São coisas banais do dia-a-dia, no entanto são também elementos que tem o seu sentido sociológico, cultural e familiar. É sinal ou expressão de respeito pela pessoa.

Nos encontros informais ou de visitas, puah-manus liga duas pessoas intimamente. À volta de puah-manus, café ou chá cria-se um ambiente familiar e fraternal. Um desconhecido torna-se conhecido e com os conhecidos estreitam-se mais os laços de amizade e de fraternidade.

Feliciano

Publicado em SVD Ao Encontro, Ano XVII, Nº. 55, Abril-Junho 2009, p. 11.